Um olhar para Eva, para a mulher, para nós
- Carol Scordamaglio
- 25 de out.
- 6 min de leitura
Atualizado: 29 de out.

Em todos os nossos estudos até aqui, aprendemos com exemplos de mulheres relatadas na Bíblia, extraindo aplicações práticas para nossas vidas e maternidade, baseadas em suas experiências. Neste mês, nos debruçaremos sobre a vida de Eva, descrita no livro de Gênesis, nos capítulos 1 a 4. Mas, diferente de todas as outras vezes, convidamos você a olhar para Eva como se fosse um espelho. Quando lemos a história de sua criação, aprendemos sobre a nossa criação. Quando observamos seus passos — do pecado à redenção, através da misericórdia de Deus — também olhamos para o nosso caminhar com Cristo. Veremos, ao fim, o que a sua maternidade tem a nos ensinar.
Criação: quando, como e por que fomos criadas
Em seu primeiro capítulo, a Bíblia descreve a criação da humanidade — homem e mulher — segundo a Sua imagem e semelhança. Ou seja, herdamos os atributos do próprio Deus (amor, justiça, capacidade de criar, governar e nos relacionar) para que fôssemos representantes da Sua glória nesta terra ou, em outras palavras, para que refletíssemos a Sua glória.
“A todos os que são chamados pelo meu nome, e os que criei para a minha glória, e que formei e fiz.”Isaías 43:7
No capítulo 2 de Gênesis, observamos um detalhe interessante: antes mesmo de a mulher ter sido criada, o homem, Adão, já havia recebido de Deus autoridade e responsabilidades. Lembrar que nossos maridos e filhos carregam o peso de uma responsabilidade tão grande diante do Senhor deve moldar nossa forma de lidar com as diferenças e expectativas em relação a eles. Diante de uma atribuição tão grandiosa, Deus, em Seu eterno amor e sabedoria, criou para o homem uma ajudadora idônea — companheira espiritual e parceira na grandiosa missão de obediência ao Seu chamado.
Os atributos que Deus nos deu para essa missão chamamos de feminilidade. A palavra hebraica do texto original traduzida como “ajudadora” no versículo 18 é citada mais de 20 vezes no Antigo Testamento, e, na maioria das vezes, é usada para descrever o próprio Deus:
“Bem-aventurado és tu, ó Israel! Quem é como tu, povo salvo pelo Senhor, o escudo do teu socorro e a espada da tua alteza!”Deuteronômio 33:29
A expressão “escudo do teu socorro”, usada em Deuteronômio 33:29, é, no original, a mesma palavra hebraica usada para descrever a mulher em Gênesis 2:18.
Um ponto muito importante a ser considerado é que, apesar de Eva ter sido criada em um contexto de casamento — ou seja, já ter nascido uma só carne com Adão —, isso não significa que a feminilidade que todas nós, como mulheres, recebemos deva, necessariamente, ser expressa no mesmo contexto. A Bíblia cita muitos exemplos de mulheres que usaram sua natureza feminina para cumprir nosso principal propósito — glorificar o nome de Deus — fora do contexto conjugal: Miriam, a profetisa Ana, Marta e Maria de Betânia, as mulheres que seguiam Jesus e a mulher samaritana são alguns exemplos.
A anatomia do pecado
Deus deu à humanidade a liberdade de escolher estar com Ele. Eva, enganada pela serpente, escolheu, por um momento, não estar. Ao contemplarmos sua história — a queda da humanidade causada pelo pecado e a redenção através do perdão de Deus, do sacrifício e da promessa de um Messias Salvador —, é possível traçarmos um paralelo com o nosso caminhar íntimo com Deus: nossos desvios, nossa necessidade d’Ele e nossa esperança de salvação através de Cristo Jesus.
O primeiro passo de Eva em direção à queda foi dar ouvidos à serpente, julgando-se, talvez, esperta e forte o suficiente para não ser enganada. O segundo foi, através das palavras da serpente, vislumbrar uma vida melhor fora da vontade de Deus. Até aqui já podemos aprender como nos armar contra o pecado: não nos colocarmos em situações de perigo ao nos julgarmos fortes o suficiente para não cairmos e, depois, não acreditarmos em um vislumbre de vida mais feliz, tranquila e satisfatória fora da obediência a Deus. Isso se aplica até aos pecados considerados pequenos e inofensivos: um comentário maldoso, um desvio da glória que deve ser dada a Deus para nós mesmas, uma pequena mentira para facilitar a vida etc.
Quando Eva e Adão desobedecem e comem do fruto que não deveriam comer, adquirem o conhecimento do mal através da experiência. Aqui recebemos um alerta de zelo pela pureza. Nossa pureza e a de nossos filhos devem ser preservadas, pois o pecado, ainda que perdoado, deixa marcas e pode vir a se tornar uma luta diária.
Depois da culpa e da vergonha — que Adão e Eva tentaram cobrir de modo improvisado, com folhas de árvores —, nenhum deles assumiu a responsabilidade pelos próprios atos. Adão tenta passar a culpa de seu pecado para Eva; Eva, por sua vez, culpa a serpente. Obviamente, as tentativas são em vão, pois Deus é onisciente e conhece nossos corações e intenções mais profundas. A arrogância espiritual — no caso das que já são cristãs — pode ser, frequentemente, um motivo de tropeço. Por vezes, nos julgamos tão evoluídas espiritualmente que nos cegamos para nossas próprias culpas e falhas. O caminhar com Cristo deve resultar em um coração contrito e humilde.
Quando tudo parecia perdido, Deus nos mostra Sua graça e amor infinitos. No capítulo 3, versículo 15, vemos, pela primeira vez na Bíblia, o anúncio de que um Messias viria para salvar a humanidade. E, no versículo 21, observamos o primeiro sacrifício — isto é, a primeira vez que sangue precisou ser derramado por causa do pecado: Deus fez para o homem roupas de pele de animais, evidenciando que a tentativa humana de encobrir culpa e pecado por conta própria era inútil.
Deus mostra justiça e misericórdia ao expulsar Adão e Eva do jardim. Ambos ainda amavam ao Senhor e se relacionavam com Ele, mas agora viveriam na esperança de um Salvador — assim como nós.
Eva, a primeira mãe
Eva nunca havia visto uma mãe. Ela não sabia como se parecia, como se comportava ou como agia uma mãe. Não ouviu nenhuma dica sobre parto e amamentação, nem conselhos de como guiar seus filhos da melhor forma diante de Deus, vindos de uma mãe mais experiente. No entanto, ela tinha como professor o único Pai perfeito que existe.
Ela aprendeu com o melhor — o nosso Criador, infalível e eterno em amor e sabedoria. Essa mesma instrução está disponível para nós, mas, muitas vezes, nos perdemos em tendências ou até em conselhos bem-intencionados, quando poderíamos estar bebendo da fonte perfeita e inesgotável da sabedoria do nosso Pai perfeito. Assim como Eva, não devemos deixar que nada tome o lugar de guia em nossa maternidade.
Apesar de ser uma mãe de profundo relacionamento com Deus — a ponto de falar pessoalmente com Ele —, Eva não teve apenas filhos tementes ao Senhor. Um de seus filhos se rebelou contra Deus e se irou a tal ponto que assassinou o próprio irmão. Eles já haviam nascido em pecado, assim como nós e nossos filhos.
Nossa natureza pecaminosa e a tendência natural de nossos filhos ao pecado não devem nos surpreender nem nos perturbar. Desde Eva, isso já é o esperado. A história de Eva deve estar gravada em nosso coração para que não nos desesperemos com o pecado, mas lembremos que ele foi vencido pelo sangue do nosso Messias, o Cordeiro perfeito, Jesus Cristo.
O que aprendemos com a vida de Eva
Ao estudarmos o relato da criação da mulher — o momento em que ela foi criada, o motivo e a finalidade —, Deus nos ensina o nosso propósito de vida enquanto Suas filhas: honrá-Lo e glorificá-Lo com nossa feminilidade, ou seja, com os atributos que nos foram dados para a missão de auxílio, suporte, amizade e força motivadora — as mesmas funções que Ele mesmo assume em relação ao Seu povo — seja no contexto conjugal ou não.
Ao ouvir as palavras da serpente, Eva vislumbrou uma vida melhor fora da vontade de Deus e desejou trilhar o caminho dos próprios desejos. Logo em seguida, foi tomada pela culpa, vergonha e arrependimento. Seu pecado deixou marcas permanentes, mas a graça de Deus superabundou em sua vida: Ele a perdoou e restaurou sua dignidade, além de prometer a vinda do Messias, Salvador de toda a humanidade.
Como a primeira mãe que já existiu, Eva não tinha outros modelos além do próprio Deus — o único Pai perfeito e infalível, infinito em amor e sabedoria. Que, assim como ela, nenhuma teoria ou conselho falível tome o lugar de principal guia de nossas vidas e maternidade: Deus.
Depois de estudarmos a história de Eva, nossa tendência pecaminosa e a inclinação natural dos nossos filhos para o mal não devem jamais nos exasperar ou surpreender. Desde Adão e Eva, todos nós nascemos em pecado. Mas aprendemos com o relato bíblico que esse não é o fim: Deus nos resgata com Seu amor e perdão; nossas culpas e pecados foram lavados pelo sangue do Messias derramado na cruz.
Vamos orar
Pai amado, como é bom ler na Sua Palavra que somos filhas amadas do Senhor, criadas com Seus atributos, com uma missão nobre e essencial. Como é maravilhoso saber que, apesar da nossa rebeldia, o Senhor nos perdoa e nos lava de todo o mal através do sacrifício do Cordeiro. Sê Tu, ó Pai, nosso guia, nosso professor, nosso mestre, em cada tomada de decisão enquanto mães. Que seja o Senhor a nossa primeira fonte de consulta, conforto, direcionamento e aconselhamento. Que a glória do Seu nome seja a principal motivação de tudo o que fazemos, inclusive na criação dos nossos filhos. Ensina-nos a lidar com nossa natureza pecaminosa e a não desanimar ou nos irar diante da inclinação para o pecado que nossos filhos têm. Dá-nos a paz e a alegria que somente a esperança da Tua salvação pode conceder.
Em nome de Jesus, amém.

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