Raquel e Lia: Identidade para além da maternidade
- Carol Scordamaglio
- 7 de set.
- 3 min de leitura
Atualizado: 29 de out.

As irmãs Raquel e Lia protagonizaram um triste drama familiar, causado pela ambição e má-fé de seu pai. Vítimas de uma situação injusta e desconfortável, cada uma, à sua maneira, lutava para encontrar dignidade e felicidade. A história dessas duas irmãs, descrita em Gênesis dos capítulos 29 a 35, nos ensina que ansiedade, sofrimento e decepção são as únicas coisas encontradas no fim de uma busca por aprovação terrena e satisfação em coisas deste mundo — no caso delas, a maternidade. Somente em Deus encontramos o amor, a validação e a paz verdadeiros.
Quando Jacó conheceu Raquel, amou-a imediatamente. Concordou prontamente com a proposta de seu futuro sogro, Labão: trabalhar sete anos em troca da mão da moça. A Bíblia diz que os anos passaram-se rapidamente para Jacó, de tanto que ele a amava. No dia do casamento, porém, Labão não cumpre sua parte do combinado e entrega sua filha mais velha, Lia, em casamento, pedindo mais sete anos de trabalho pela filha prometida, Raquel. Jacó aceita e, finalmente, o casal está junto. No entanto, o cenário está longe de ser o sonhado pelos dois. Tudo se torna ainda mais complicado quando Raquel descobre ser estéril. Lia, sentindo-se desprezada, aproveitava a situação para provocar a irmã, enquanto tentava, filho após filho, finalmente conquistar o amor e a validação do marido.
Ambas depositavam na maternidade a esperança de encontrar paz em meio a uma situação familiar angustiante e, por meio dos filhos, firmarem sua identidade. Deus abençoou Raquel com seu primeiro filho, José, que viria a ser o amado e preferido de Jacó, mas ela acabou falecendo no parto de seu segundo filho, Benjamim. Como consequência da disputa entre as mães, os filhos de Jacó cresceram em pé de guerra, chegando ao ponto de forjarem a morte do irmão e vendê-lo como escravo. Mais uma vez, contemplamos a soberana mão divina guiando o destino de seu povo. José viria a se tornar governador e, ao perdoar os irmãos, trouxe todos para morar com ele no Egito. Assim se inicia a saga das tribos de Israel.
Aprendendo com as vidas de Raquel e Lia
O texto bíblico diz que, quando deu à luz a Rúben, seu primeiro filho, Lia declarou: “Agora me amará o meu marido”. No nascimento do segundo filho, Simeão, Lia ainda lamentava o desprezo do esposo. Ao ter o terceiro, Levi, disse: “Agora, desta vez, se unirá meu marido a mim”. Porém, ao perceber que sua fertilidade era inútil diante da rejeição que sofria, no nascimento do quarto filho, Judá, afirmou: “Desta vez louvarei ao Senhor”. A busca por aprovação terrena ou satisfação em coisas deste mundo, além de não nos preencher, nos cega para as bênçãos que já recebemos. Apenas no quarto filho Lia voltou seus olhos para as coisas do alto e buscou consolo no único lugar onde poderia encontrá-lo: no Senhor.
As duas irmãs sofreram por depositar na maternidade seu senso de valor e identidade. Colocar tamanha importância em algo passageiro — que inevitavelmente falhará, seja carreira, posição social, bens materiais ou prestígio — é caminho certo para ansiedade, tristeza, vazio e depressão. Deus é o único imutável, eterno, a rocha firme sobre a qual devemos estar alicerçadas.
A Bíblia ensina que qualquer coisa que ocupe o lugar de Deus no nosso coração, isto é, o lugar de maior importância em nossa vida, torna-se nosso ídolo. A história de Raquel e Lia mostra que uma mulher com muitos filhos pode idolatrar a maternidade, assim como uma mulher sem filhos também pode fazê-lo. Ou seja, a idolatria não é determinada por nossas circunstâncias, mas pela disposição do nosso coração diante delas.
Ore conosco
Pai amado, me perdoe pois muitas vezes dedico meu tempo e meus esforços a buscar reconhecimento e minha própria identidade em lugares errados. Lugares que fatalmente irão falhar. Me perdoe pois me entristeço ao perder o foco das coisas que o Senhor já me deu. Senhor, não deixe que eu alicerce meu coração em coisas passageiras e terrenas, mas sejas Tu o meu porto, a minha identidade. Que eu faça todas as coisas, trabalhe, cuide dos meus filhos, com o objetivo certo que é Te glorificar. Tem misericórdia de mim, ó Pai, e me cega para as coisas desse mundo, fazendo eu enxergar apenas o que é eterno e imutável.
Em nome de Jesus, amém.

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